domingo, março 11, 2007

SOLIDÁRIO COM A VERDADE

Vivemos um tempo de barbárie, em meio a epidemias mudas que travestidas da banalidade calam vidas e provocam gemidos de indignação da sociedade que sangra no âmago dessa tormenta. Cenário formado para brotar nos organismos sociais a célula da solidariedade, presente em seu gene, no combate aos tumores cravados em nossas gargantas. Assistimos a tudo quase que em silêncio. Ser solidário é ter uma postura de apoio? Proteger? Cuidar? Abraçar causas nobres? É praticar boas ações? Talvez seja a hora de entender esse substantivo e transforma-lo num verbo de ação - de combate; num verbo de ligação- globalizar povos; de fenômeno da natureza – que chova iniciativas. Durante muitos anos guardamos um silêncio estúpido e de repente o falar tornou-se necessário, mas a imprescindível mudança de postura, ainda não debutou. É preciso deixar de decorar regras do código de boa ação, da lei do ser bonzinho e nos tornarmos disponíveis.
Não serei injusta a ponto de negar o papel de voluntários na prática da solidariedade, mas não serei inocente ao passo de considerar o mundo solidário. Talvez possamos falar, sim, em um palco de atores com brilhantes atuações solidárias. Aqui chego ao cerne da problemática: Solidariedade se restringe a atuações solidárias?
É preciso, por exemplo, uma catástrofe na áfrica para lembrarmos que lá há fome? Precisamos de homens-bombas para sabermos que o Oriente médio está em guerra? Precisamos que um menino seja arrastado por 7 km para tomarmos ciência da violência desenfreada dos centros urbanos? Precisamos do ataque terrorista do crime organizado para vermos a presença de um poder paralelo? Para tantas perguntas, uma única resposta: NÃO! Infelizmente esperamos que algo desabe para contabilizarmos os mortos e feridos, pôr a culpa em alguém, prestarmos socorro e apoio moral... Lambemos as feridas por algum tempo (curto) e de ano a ano lembrarmos o aniversário do holocausto; Como se ele não estivesse vivo. Como se o caos não estivesse instalado. Precisamos ser solidários com a verdade.
Aceitemos a verdade nua e crua, sejamos heróis e não criemos mártires para a história. Temos muito de sentimento de pena, mas pouco de consciência de responsabilidade.
Débora Rangel